02/07/2025 às 18:53 Além do clique

Meu hat-trick fotográfico: Três lendas, um só olhar

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Eu devia ter uns oito anos quando descobri que a grama do estádio podia ser casa. Ali, entre chuteiras e cantos de arquibancada, eu jurava que seria jogador de futebol. Treinei, driblei, chutei paredes de quintal até descascarem; colecionei cicatrizes, convocações para peladas de bairro e aquela esperança teimosa que só criança conhece.

Mas a bola, caprichosa como um meia habilidoso, às vezes faz o passe para onde a gente menos espera. Um “não” na peneira virou manchete de quarto vazio: “Sonho adiado”. Doeu. Só que recusar a paixão nunca foi opção. Troquei a chuteira pelo caderno, corri para o jornalismo esportivo, achando que bastaria escrever sobre o jogo para continuar perto dele. Descobri, porém, que minha alma ainda girava em torno do círculo central.

Foi então que a câmera apareceu – silenciosa, de lente atenta – e me ofereceu outro uniforme. Hoje, entro em campo carregando um kit de lentes no lugar da braçadeira, mas com o mesmo sangue pulsando alto. “Marco em cima” o personagem da foto, com o olhar corro atrás do instante irrepetível, faço tabelas entre luz e sombra e, quando aperto o disparador, marco meu gol num clique que eterniza o momento.

E o futebol, esse velho companheiro, retribuiu. A vida me deu credencial para estar ao lado de quem eu só conhecia de escutar o rádio.

Autoridade conquistada em campo

Essa entrega rendeu reconhecimento: seleção Top 10 da América pela AIPS (2023), Top 2 da América pela AIPS (2024), trabalhos selecionados em festivais e concursos de grande conceito e impacto como da Arfoc-SP, mas acima de tudo, a oportunidade de eternizar alguns dos maiores nomes de todos os tempos. Meu Top 3 de lendas fotografadas — e por quem assino imagens elogiadas por críticos e publicadas em livros — fala por si:

Coutinho, o gênio da pequena área, parceiro de Pelé nos anos 60 do Santos FC. Minhas fotos capturaram sua serenidade de artilheiro aposentado, mas com brilho ainda de menino.

Craque e gênio da pequena área, Coutinho, em retrato realizado nos vestiário da Vila Belmiro
Craque e gênio da pequena área, Coutinho, em retrato realizado nos vestiário da Vila Belmiro

Pepe, o Canhão da Vila, segundo maior artilheiro da história santista. Três retratos meus foram escolhidos para ilustrar a biografia “Pepe – A Cara do Santos”, relançada pela filha Gisa Macia em abril de 2025.

Ídolo Eterno do Santos FC, Pepe, o Canhão da Vila, posando para uma série de retratos dias antes de completar 90 anos
Ídolo Eterno do Santos FC, Pepe, o Canhão da Vila, posando para uma série de retratos dias antes de completar 90 anos


Um dos três retratos que estão no livro biografia de Pepe, o Canhão da Vila
Um dos três retratos que estão no livro biografia de Pepe, o Canhão da Vila

Neymar, o Príncipe que herdou o trono de Pelé. Entre dribles e sorrisos, registrei o momento em que passado e futuro do clube se reconhecem no mesmo rosto.

Neymar na sua entrevista de apresentação no Ney Day, dia histórico do seu retorno ao Santos FC
Neymar na sua entrevista de apresentação no Ney Day, dia histórico do seu retorno ao Santos FC


Craque Neymar em momento de fé e concentração antes da bola rolar em seu primeiro jogo no retorno ao Santos FC na Vila Belmiro contra o Botafogo-SP
Craque Neymar em momento de fé e concentração antes da bola rolar em seu primeiro jogo no retorno ao Santos FC na Vila Belmiro contra o Botafogo-SP


Enquanto o obturador ecoava, senti aquele menino de chuteiras gastas no asfalto sorrir dentro de mim. Percebi que a rota pode mudar, mas o destino insiste quando há amor no que faz. Eu não vesti a camisa 10, mas visto a luz que revela cada craque. Não levanto taças, mas ergo histórias que não cabem no placar.

Essas imagens não são apenas fotos; são documentos de patrimônio esportivo, criados com a mesma obsessão por luz e sombra que me faz estudar Caravaggio e Rembrandt. Cada clique meu transforma suor em arte — e, quando a sirene do estádio se cala, o que fica é a fotografia, firme como um troféu erguido pela memória coletiva.

O que aprendi — e divido com você

Se um “não” desviou sua rota, talvez seja o universo chamando para um drible mais criativo. Sonhos não acabam: eles mudam de posição em campo até encontrarem o espaço certo para receber a bola.

Eu não pedi para ser fotógrafo; o futebol pediu. Hoje, dedico‑me a contar histórias que o placar não conta, a celebrar ídolos e anônimos com a mesma reverência e, sobretudo, a provar que derrotas podem ser atalhos para destinos ainda maiores.

Com licença poética ― e santista ―, repito o hino que embala meu trabalho: “É um orgulho que nem todos podem ter.” Orgulho de transformar paixão em profissão, de ouvir o clique ecoar como gol e de carregar, na mochila, retratos que já fazem parte da história eterna do esporte.








02 Jul 2025

Meu hat-trick fotográfico: Três lendas, um só olhar

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