Nosso dia a dia é moldado por escolhas. Desde a hora em que acordamos até o instante em que vamos dormir, estamos o tempo todo decidindo. Algumas são banais, quase automáticas. Outras, determinam rumos, constroem legados. Na fotografia, especialmente na cobertura de um jogo de futebol, não é diferente. A cada lance, a cada movimento, a cada clique, há uma escolha sendo feita — consciente ou não.
Escolhas. Quantidade ou qualidade? Um clique qualquer ou um clique representativo? Enviar fotos enquanto a bola ainda rola para mostrar eficiência e rapidez ou manter o foco absoluto no jogo, nos lances decisivos, na construção de uma narrativa visual que realmente conte a história da partida com peso, significado e relevância?
Essas são apenas algumas das decisões silenciosas que um fotógrafo esportivo enfrenta ao longo dos 90 minutos (e acréscimos) de uma partida. E, dentre elas, eu escolho — e sempre escolhi — as segundas opções. Prefiro qualidade à quantidade. Prefiro o clique com propósito ao clique por impulso. Prefiro acompanhar o jogo com atenção plena, como quem lê um livro e tenta absorver cada detalhe da narrativa, ao invés de tentar provar que consigo ser multitarefas enquanto o jogo ainda está em andamento.
Não existe certo ou errado. Existe apenas o que cada profissional acredita. E eu acredito na fotografia com alma. No clique pensado. No jornalismo visual com essência, que respeita a integridade da história e não se deixa moldar inteiramente pelas exigências de um tempo em que tudo precisa ser imediato, veloz, efêmero.
Sim, o mundo mudou. Está mais dinâmico, mais conectado, mais acelerado. Mas é preciso refletir: para onde essa pressa — disfarçada de eficiência e profissionalismo — está nos levando? O que ela está fazendo com a qualidade do jornalismo e, mais especificamente, com o fotojornalismo esportivo?
Se eu tivesse seguido essa lógica da velocidade a qualquer custo, talvez não tivesse feito aquele clique específico, emblemático: a mão na bola de Neymar, contra o Botafogo. Um detalhe que foi decisivo no resultado da partida. Mas eu estava ali, atento, acompanhando lance a lance, com a câmera em punho e o olhar treinado para encontrar não apenas uma imagem, mas a imagem. Não estava preocupado em provar que era ágil em enviar fotos durante o jogo. Eu estava concentrado em fazer o que acredito: capturar o instante exato, o momento que fala por si, que registra a história e que carrega o peso do que realmente importa.
É como diz o velho clichê do pato: ele anda, nada e voa — mas não faz nenhum dos três com excelência. Prefiro ser excelente no que me proponho a fazer, mesmo que isso vá contra o fluxo. Prefiro a imagem que permanece àquela que apenas passa.
E, para fechar, uma analogia que resume tudo: contextos diferentes, épocas distintas, competições opostas, mas com a mesma essência. O clique da mão na bola de Neymar pode não ter sido um gol, mas foi o momento decisivo do jogo. Um detalhe que fez diferença. Assim como a mítica “Mão de Deus”, de Maradona, na Copa do Mundo de 1986. Lá, o gol valeu. Não havia VAR. A imagem eternizou o momento. Aqui, com toda a tecnologia e cobertura disponível, ainda assim, o olhar atento e a escolha de contar bem a história fizeram a diferença.
No fim das contas, a fotografia é feita de escolhas. E são elas que moldam não só o nosso trabalho, mas também o legado que deixamos. Eu escolho contar histórias que ficam.




